Foto real da senzala Fonte: Canal Visão Paranormal |
A cidade de Laguna
Com área de 353 Km², se localiza na região do litoral sulcatarinense, distando aproximadamente 110-120km (malha viária) da capital Florianópolis, limita-se ao norte com Imbituba e Imaruí, ao sul com Jaguaruna, a oeste, os municípios de Capivari de Baixo, Gravatal e Tubarão, ao leste, com o Oceano Atlântico. Possui uma população de 70 mil habitantes, na sua grande maioria, de origem açoriana (imigrantes advindos das Ilhas de Açores) cuja as prim
eiras famílias chegaram em meados de 1740-1749. Laguna é referência na história Catarinense, pois é a terra de Anita Garibaldi, a Heroína Brasileira que lutou na Revolução Farroupilha e pelo Tratado de Tordesilhas, firmado entre Espanha e Portugal. A Fonte da Carioca construída pelos escravos em 1768, também é um marco histórico do lugar, dizem os moradores que “quem beber daquela água retornará à Laguna”. A Igreja Matriz que leva o nome do santo padroeiro tem mais de 300 anos, o início da construção se deu em 1696. Hoje em suas principais ruas, Laguna abriga em torno de 600 casarios e monumentos históricos tombados desde 4 de outubro de 1978. As primeiras construções da “Vila” de Laguna eram de pau a pique, cobertas com palha, que aos poucos foram sendo substituídas por edificações de adobe, tijolo rústico um pouco maior que o normal, e pedra. O estilo arquitetônico apresenta estilo clássico e gótico e se mistura com uma arquitetura cheia de ornamentação e decorativismo. Laguna foi fundada no século XVII pelo bandeirante vicentino Domingos de Brito Peixoto e seu grupo constituído por familiares, agregados, escravos negros e indígenas, e homens de armas. O ano de sua fundação foi estabelecido, não sem controvérsias, como sendo o de 1676, Sendo a terceira cidade mais antiga de Santa Catarina. Na primeira década do século XX, a economia do município de Laguna baseava-se na produção agrícola em pequena escala e na pesca. Dentre os gêneros alimentícios exportados estavam: farinha de mandioca, peixe salgado, milho, fava e feijão. A cidade contava ainda com uma dezena de fábricas que produziam: cerveja, sabão, velas, fogos de artifício, malas, baús, objetos de folhas de flandres, vinagre, tonéis e sapatos. A paisagem urbana era composta por portos, trapiches e cerca de mil prédios, entre edifícios públicos e residências particulares
Foto real da casa que abriga a senzala Fonte: Google Maps |
A população de cor em Laguna era maior do que a de Desterro (atual Florianópolis). Em um censo referente ao ano de 1833, Laguna contava com 11.682 habitantes, sendo que, praticamente, um quinto desse total era formado por escravos. Possuía neste ano uma população livre “de cor” de 346 pessoas, incluindo pardos, pretos, libertos e ingênuos. Em 1940 sua população total era de aproximadamente 33.217 sendo que destes 2.365 eram homens e mulheres que se identificavam como pretos e 124 que se identificavam como pardos. No entanto esses dados não são extremamente precisos, pois havia a possibilidade dos responsáveis pelo recenseamento, não desempenharem seu papel corretamente. Muitas pessoas, também, evitavam os recenseadores, temendo o recrutamento forçado para o exército, o que contribuía para a redução da credibilidade dos números apresentados nos censos. Até a década de 1990, a história de Laguna não considerava os africanos e seus descendentes como agentes históricos. Nos textos de memorialistas locais, eles apareceram como escravos até a abolição e depois não foram mais citados. No entanto, pesquisas acadêmicas atuais mostram que escravos, homens livres e escravos libertos de origem africana participaram ativamente da vida social de Santa Catarina desde o século XVIII. O trabalho escravo era usado na produção agrícola, principalmente para farinha de mandioca, pesca e produção de óleo de baleia. Pesquisas recentes também indicam que, além de servir como mão-de-obra para seus senhores, escravos, libertos e livres, africanos e crioulos trabalhavam por conta própria, associados em irmandades e sociedades de diferentes naturezas, viajaram entre províncias, acumularam bens (inclusive escravos) e constituíram famílias. Os senhores de escravos podiam dispor do outro como quisessem pois para eles, os escravos eram apenas uma “peça” como se dizia, a todo momento estavam prontos a abusar sexualmente das escravas e a vender seus filhos pequenos para que não tivessem apego a eles. Nada de mais cruel, anti-ético e perverso do que a destruição dos laços de mãe e filhos. Tal situação não mudou com a República, os antigos senhores coloniais foram substituídos pelos coronéis e senhores de grandes fazendas e capitães da indústria. Não existia respeito mínimo às pessoas nem garantia de seus direitos básicos, a relação era de medo e de uso de violência ou repressão. Nunca se criou um mercado interno, e desde o período colonial o povo escravo foi quem mais trabalhou e quem pouco pode fazer para sobreviver. Os níveis de vida de um escravo ficaram sempre entre 10 e 15 anos, de sua introdução à sua morte. E a escravidão durou praticamente quatro séculos. Esperanças de melhoria animaram sempre o povo brasileiro, mas ele foi sempre economicamente um povo derrotado como indivíduo, pela extrema pobreza de sua vida própria, e como povo, passamos 322 anos trabalhando para Portugal e ainda continuamos a trocar nossas riquezas por meros “espelhos”. Se a história do Brasil não é uma história francamente cruenta, é impossível negar o caráter sangrento com que se processou muitas vezes o domínio das grandes massas escravas ou escravizadas. Deve-se contar ainda as grandes fomes, as grandes epidemias, e as endemias que grassaram sempre e tornaram ensanguentado o processo histórico brasileiro. A linha conciliatória ocorreu muitas vezes e moderou a violência do processo; outras vezes, a submissão, a paciência, a omissão de um lado, e o temor, a necessidade e o poder promoveram os acordos tácitos que não diminuem as distâncias, mas permitem baixar as tensões sociais, evitar os conflitos e praticamente conseguir um consenso provisório.
Foto real da senzala Fonte: Canal Visão Paranormal |
As senzalas
Dadas as dificuldades de caráter econômico naquela época, edificar senzalas seria praticamente impossível, principalmente as do tipo senzala-pavilhão*, devido aos custos que tais construções acarretariam aos donos de escravos, quando até mesmo suas moradas eram muito precárias. Analisando os inventários do Sudeste brasileiro, deduz-se que como lá, em Santa Catarina e mais precisamente em Laguna era a mesma coisa, nos séculos XVII e XVIII, é provável que o local onde dormiam os escravos se localizasse dentro das casas de morada do proprietário, por conta disso, provavelmente, não havia necessidade de registrar o fato nos inventários, o que gerou grande dificuldade para encontrar qualquer tipo de informação sobre a moradia dos escravos naquela época em Laguna.
Foto real da senzala Fonte: Canal Visão Paranormal |
A senzala assombrada
A senzala assombrada fica localizada na parte de baixo, como se fosse um porão, de um dos casarios mais antigos de Laguna. Acredita-se que esta casa tem entre 100 e 200 anos, ninguém sabe ao certo, e foi construída com óleo de baleia, o que era muito comum naquela época. O fato é que realmente este é um casario muito grande, analisada hoje com uma área de 774m², sendo 527,76m² de área construída. A casa possui ainda 17 ambientes entre salas e quartos, incluindo onde antigamente se situava a senzala, 1 cozinha, 4 banheiros e garagem com espaço para 10 carros.
Foto real da senzala Fonte: Canal Visão Paranormal |
Dizem que esta antiga senzala já foi cenário de morte e tortura de vários escravos. Sr. Vilar, que trabalha na associação dos artesãos de Laguna na Casa de Anita, disse que “antigamente ali também funcionou uma escola que pegou fogo, e que quando visitou o local à noite, na época que ainda era a escola, sentiu uma vibração esquisita”. Já em meados de 2011-2017 funcionava ali uma delegacia, onde além de ter cela em que as pessoas se mataram, policiais afirmaram terem visto os espíritos dos escravos perambulando pelo local, principalmente quando faziam plantões durante as madrugadas. Além disso, relatos de vozes e murmúrios também eram constantemente ouvidos pelos funcionários da delegacia. “Às vezes quando estava muito silencioso, dava para ouvir passos, então a gente até saía para procurar quem poderia estar andando pela delegacia, mas não encontrávamos ninguém” disse Manuel Damazio Martins, agente de polícia civil classe 8, em entrevista para o canal do youtube “Visão Paranormal” em setembro de 2011, “além disso entre 2h e 3h da manhã às vezes também escutávamos barulhos de corrente, víamos pessoas passando de roupa branca, a mais comum era a figura de uma mulher, que desaparecia”, isso aconteceu com ele durante um período de 6 a 7 anos, enquanto ele trabalhou naquela casa. A escrivã da polícia, Adriana Cimardi, que também trabalhou ali na época, afirmou que “o melhor horário para sentir as vibrações é até as 22h, depois disso quase não tem mais manifestações pois depois desse horário eles estão descansando”.
Foto real da casa que abriga a senzala Fonte: Google Maps |
Fato comprovado por mim que estive ali no período do entardecer e senti um clima pesado, não só ali, mas por toda a cidade de Laguna, que é muito bonita a luz do dia, mas após o anoitecer, fica com um aspecto muito tenebroso. Já a equipe paranormal que chegou ao local depois desse horário conseguiu ainda pegar alguns fenômenos que foram captados pelo medidor eletrônico de sinal eletromagnético. Rosa Maria Jaques, jornalista e paranormal da equipe "Visão Paranormal", afirmou sentir presenças amigáveis que tentaram comunicação através de seus equipamentos. Sentiu também um sentimento de saudade proveniente dos espíritos solitários que viveram em vida ali e que hoje ainda vivem, mesmo depois de suas mortes carnais. Além disso, sentiu ainda sentimentos de solidão, abandono, tristeza, ressentimento, mágoa e vazio, todas emoções que ainda hoje estão impregnadas neste local. Outro fato curioso, foi que entre 00h e 1h seus aparelhos mediram sem explicação evidente, sinal onde não tinha fonte para sinal elétrico perto, fato esse, comprovado posteriormente por Carlos Eduardo Bayer (Kadu), que é físico.
Foto real do aparelho medidor de CEM Medidor de campo eletromagnético antes das atividades paranormais (em estado normal) Fonte: Canal Visão Paranormal |
Foto real do aparelho medidor de CEM
Medidor de campo eletromagnético durante as atividades paranormais
Fonte: Canal Visão Paranormal
Foto real da casa que abriga a senzala Fonte: Google Maps |
senzala-pavilhão*: Baseando-se em relatos de viajantes que percorreram o Centro-Sul do Brasil ao longo do século XIX, Slenes distingue três tipos de vivenda escrava: as senzalas "pavilhão", edifício único com pequenos recintos ou cubículos separados para os escravos solteiros e casados, as senzalas "barracão", onde viveriam escravos e escravas solteiros em grandes recintos separados, e as senzalas "cabana", onde viveriam escravos casados ou solteiros de um mesmo sexo. Ao sintetizar sua análise sobre a questão, Slenes escreve que:
o que chama a atenção na maioria destes depoimentos é que o casar-se [...] conferia acesso a um espaço construído próprio, seja um cubículo num barracão/pavilhão, seja num barraco separado. Mesmo não sendo necessariamente maior do que os cubículos [nos barracões], os compartimentos [nos pavilhões] ou os casebres dos solteiros, a moradia da pessoa casada – ou pelo menos da recém-casada, sem filhos – geralmente congregava menos gente [...]. Além disso, e mais importante, era uma habitação dividida com um parceiro de vida, não apenas de roça. Enfim, o casar-se freqüentemente implicava para o escravo ganhar mais espaço construído; mas, sobretudo, significava apoderar-se do controle desse espaço, junto com o cônjuge, para a implementação de seus próprios projetos.
Fontes:
Clube dos medos
Caça Fantasmas Senzala Delegacia de Policia Laguna SC parte 1
Caça Fantasmas Senzala Delegacia de Policia Laguna SC parte 2
Google Maps
Litoral de Santa Catarina.com
Revista do Museu e Arquivo Histórico de de La Salle
O Sentido da história do Brasil
Repositório Institucional da UFSC: Brinca quem pode: territorialidade e (in)visibilidade negra em Laguna - Santa Catarina
Repositório Institucional da UFSC: Sujeitos Esquecidos, Sujeitos Lembrados
Jornal de Laguna: Lugares para viver Laguna
Jornal de Laguna: Causas da escandalosa falta de ética no Brasil
As heranças do Rosário: associativismo operário e o silêncio da identidade étnico-racial no pós-abolição, Laguna (SC)
Repositório UNESC
Scielo: Revista Brasileira de História
Scielo: Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material
ENTRE CONTRABANDO E AMBIGÜIDADES:
OUTROS ASPECTOS DA REPÚBLICA JULIANA
LAGUNA/SC - 1836-1845
Tempos Acadêmidos
Freddy Imóveis
Autora no local aonde acontecem os eventos paranormais (2018) Fonte: Instagram pessoal |
Então é isso galera, espero que tenham gostado de conhecer mais um local assombrado de Santa Catarina.
Me perdoem pelo longo atraso nas postagens, mas como dá para perceber, eu faço uma pesquisa muito extensa sobre o assunto, leio muitos artigos, incluindo acadêmicos, tudo isso para trazer um conteúdo fresco para vocês e não apenas o famoso "Ctrl C + Ctrl V". E logo eu venho com mais locais assombrados para vocês.
Dúvidas, sugestões ou reclamações, não deixem de me contactar, seja aqui pelos comentários, seja por e-mail.
Ah! E acompanhem também o meu outro blog, lá eu posto com mais frequência (pelo menos até agora estou conseguindo postar todos os dias haha), nesse blog, eu trato de um assunto mais diferenciado, que são os sonhos, mas não os meus e sim o de vocês, está muito legal, não deixem de conferir.
Abraço!
https://blogdossonhosbrasil.blogspot.com/
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